Ensino Híbrido: o que é e como implementar na Escola
Luísa França ago 11, 2016

Texto baseado em entrevista realizada com Lilian Bacich

Ensino Híbrido: o que é e como implementar na Escola

As tecnologias digitais podem colaborar com os processos de ensino e aprendizagem, porém apenas o uso da tecnologia não é suficiente. O Ensino Híbrido, que combina o uso da tecnologia digital com as interações presenciais, visando a personalização do ensino e da aprendizagem é um modelo possível para facilitar a combinação, de forma sustentada, do ensino online com o ensino presencial.

Para refletir e verificar as possibilidades do uso dessa proposta foi organizado um Grupo de Experimentações, parceria entre o Instituto Península e a Fundação Lemann. Tratou-se de um estudo exploratório, na modalidade pesquisa-ação, com uma amostra de dezesseis educadores de diferentes estados brasileiros que lecionam em escolas públicas e particulares.

Os resultados obtidos a partir de análises de planos de aula, vídeos e texto elaborado pelos professores indicam enriquecimento da prática pedagógica por meio do uso integrado das tecnologias digitais, motivação dos estudantes e possibilidades de personalização das ações de ensino e aprendizagem.

O que é Ensino Híbrido?

É possível encontrar diferentes definições para Ensino Híbrido na literatura. Todas elas apresentam, de forma geral, a convergência de dois modelos de aprendizagem: o modelo presencial, em que o processo ocorre em sala de aula, como vem sendo realizado há tempos, e o modelo online, que utiliza as tecnologias digitais para promover o ensino.

No modelo híbrido, a ideia é que educadores e estudantes ensinam e aprendem em tempos e locais variados. Principalmente no Ensino Superior, esse modelo de ensino está atrelado a uma metodologia de ensino a distância (EaD), em que o modelo tradicional, presencial, se mistura com o ensino a distância e, em alguns casos, algumas disciplinas são ministradas na forma presencial e, outras, ministradas apenas a distância.

Esse seria o uso original do termo que evoluiu para abarcar um conjunto muito mais rico de estratégias ou dimensões de aprendizagem.

Podemos considerar que o termo Ensino Híbrido está enraizado em uma ideia de que não existe uma forma única de aprender e que a aprendizagem é um processo contínuo.

O estudo sobre o uso das tecnologias digitais no processo ensino-aprendizagem não é recente na educação.

Desde o final do século passado, com a introdução do uso dos computadores na escola, diversos estudos têm sido realizados com o objetivo de identificar estratégias e consequências dessa utilização.

Algumas pesquisas realizadas sobre o uso das TICs demonstram sua importante influência em transformações ocorridas nas formas de aprender, nas formas de se relacionar, nas formas de construir significado e valores. Porém, muitas dessas pesquisas, enfatizam a importância de uma reelaboração da cultura escolar para que esse novo paradigma possa surtir efeito positivo no ensino.

Isso se justifica porque muitas instituições de ensino, apesar de implementarem o computador em sua rotina, ainda têm dificuldade em modificar as formas de lidar com o planejamento das aulas.

Apesar de já estar presente em diferentes contextos diários e de ser considerada importante na educação, a mudança na escola tem sido mais lenta.

Como surgiu?

Por que, como, onde, quando…

A definição de Ensino Híbrido  proposta pelo Instituto Clayton Christensen é a que tem sido mais utilizada nas escolas de Educação Básica nos EUA e apresenta as propostas híbridas como concepções possíveis para o uso da tecnologia na cultura escolar contemporânea, uma vez que não é necessário abandonar o que se conhece até o momento para promover a inserção de novas tecnologias em sala de aula regular, aproveitando o melhor dos dois mundos.

Há possibilidade de personalizar o ensino por meio da utilização de diferentes recursos didáticos, tendo as tecnologias como espinha dorsal do processo.

A organização dos modelos de Ensino Híbrido (HORN e STAKER, 2012; 2015) aborda formas de encaminhamento das aulas em que as tecnologias digitais podem ser inseridas de forma integrada ao currículo e,  portanto, não são consideradas como um fim em si mesmas, mas têm um papel essencial no processo, principalmente em relação à personalização do ensino.

Diante dessa proposta e modelos, em 2014, Instituto Península, do qual sou consultora, e Fundação Lemann organizaram um grupo de experimentações em Ensino Híbrido com a participação de 16 professores de escolas públicas e privadas de 4 estados do Brasil (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul).

Nosso objetivo foi levar os professores a experimentarem novas formas de atuação, como proposto pelo Instituto Clayton Christensen, e verificarem até que ponto essas novas maneiras poderiam impactar nos resultados esperados em relação ao desempenho de sua turma.

Para isso, elaboramos desafios, propostos periodicamente, e que levaram o grupo de professores uma reflexão sobre o uso das tecnologias digitais nas ações de personalização. Os desafios propostos podem ser encontrados em https://porvir.org/especiais/personalizacao/ no item “Sua vez”.

Nesses desafios, entre outras ações, era solicitado que o professor registrasse, por meio de uma filmagem, sua atuação em sala de aula, pensasse sobre ela e, depois, deveria discuti-la com o tutor e com os pares.

Os resultados dessa reflexão sobre a prática, configurando-se em uma pesquisa-ação, foram textos elaborados pelos professores e que foram organizados em uma publicação (BACICH et al, 2015) e em vídeo-aulas.

Como implementar o Ensino Híbrido em minha escola?

Principais desafios, dificuldades e resistências

É necessário pensar, para uma utilização eficiente, mudanças em vários níveis: infra-estrutura educacional, formação de professores, currículo, práticas de sala de aula; modos de avaliação entre outros. Verifica-se, assim, a importância da formação do professor para que ele utilize as TICs em sala de aula de forma integrada ao ensino, não apenas como uma maneira de substituir recursos. Se as tecnologias digitais puderem ser utilizadas para auxiliar na personalização das ações de ensino e aprendizagem, o ganho, por parte dos estudantes e do professor, será extraordinário.

A reflexão sobre a relação entre avaliação e personalização do processo de ensino e aprendizagem está no cerne da discussão sobre ensino híbrido. A inserção e a integração das tecnologias digitais decorrem dessa reflexão. Para possibilitá-la, é importante ter clara a concepção de avaliação e de personalização a que nos referimos. A avaliação vista como diagnóstico, ou utilizada no decorrer do processo e não no final de um ciclo. Com essas informações em mãos, é possível pensar em estratégias de organização dos alunos em sala de aula, favorecendo ações de personalização.

Os modelos mais utilizados pelo grupo com foco no uso da avaliação como recurso de personalização foram:

Modelo de Rotação: baseado na criação, pelo professor, de diferentes espaços de ensino-aprendizagem dentro ou fora da sala de aula para que os estudantes revezem entre diferentes atividades de acordo com um horário fixo ou de acordo com a orientação do professor.

Os espaços de ensino-aprendizagem podem envolver pequenos grupos de discussões, atividades escritas, leituras e, necessariamente, uma atividade online, propiciando para o aluno a oportunidade de busca de novas fontes de conhecimento fora do seu contexto escolar.

Nesse modelo, há as seguintes propostas: Rotação por Estações, na qual os estudantes realizam diferentes atividades, em estações, no espaço da sala de aula.

O Laboratório Rotacional: neste modelo, os estudantes usam o espaço da sala de aula e laboratórios.

A Sala de Aula Invertida: na sala de aula invertida, a teoria é estudada em casa, no formato online, e o espaço da sala de aula é utilizado para discussões, resolução de atividades, entre outras propostas e

 a Rotação Individual: nesse modelo de rotação individual, cada aluno tem uma lista das propostas que deve contemplar em sua rotina para cumprir os temas a serem estudados.

Podemos considerar que os dois ambientes de aprendizagem, a sala de aula tradicional e o ambiente virtual de aprendizagem estão tornando-se gradativamente complementares. Isso ocorre porque, além do uso de variadas tecnologias digitais, o indivíduo interage com o grupo, intensificando a troca de experiências.

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O papel dos educadores e dos alunos nesse novo formato

O modelo de Ensino Híbrido aqui tratado é uma forma de abordagem que promove uma mistura entre o ensino presencial e propostas de ensino online, que ocorrem na sala de aula ou fora dela, porém, preferencialmente na escola.

O papel desempenhado pelo professor e pelos alunos sofre alterações em relação à proposta de ensino tradicional e as configurações das aulas favorecem momentos de interação, colaboração e envolvimento com as tecnologias digitais.

O Ensino Híbrido busca o desenvolvimento da autonomia dos alunos para que possam trabalhar em grupos e compartilharem conhecimentos, utilizando tecnologias digitais como aliadas nesse processo.

Sendo assim, o Ensino Híbrido parte de uma proposta metodológica que impacta na ação no professor em situações de ensino e na ação dos estudantes em situações de aprendizagem, pois a troca entre os pares com diferentes habilidades e conhecimento se torna mais fluida e participativa.

Livro: Ensino Híbrido – personalização e tecnologia na educação

O livro que organizei, em parceria com Adolfo Tanzi Neto e Fernando Melo Trevisani aborda o percurso desse grupo de professores em experimentar e implementar ações educativas que apresentassem as tecnologias digitais como aliadas no processo ensino-aprendizagem. Além dos capítulos dos organizadores, prefácio do professor José Valente, da Unicamp, e capítulo inicial do professor José Moran, da USP, o livro conta com a reflexão de professores sobre a implementação da proposta em sua realidade, configurando-se em uma proposta de pesquisa-ação.

No capítulo final, denominado “Planejando a mudança“, foi feita análise de planos de aula elaborados pelos professores do grupo e discutido como cada um desses planos envolve modelos de Ensino Híbrido e sua relação com a personalização do ensino.  Assim, os organizadores apresentam possibilidades de integração das tecnologias digitais ao currículo escolar, de forma a alcançar uma série de benefícios no dia a dia da sala de aula, como o maior engajamento dos alunos no aprendizado e o melhor aproveitamento do tempo do professor para momentos de personalização do ensino por meio de intervenções efetivas.

A principal motivação dessa empreitada foi oferecer recursos para que os professores pudessem ter exemplos de como organizar suas aulas, inserindo as tecnologias digitais como um potente recurso de personalização das ações de ensino e aprendizagem, contando com a experiência de um grupo de professores que experimentaram e vivenciaram desafios e presenciaram os benefícios dessa inserção no dia a dia da escola.

Principais referências de estudos do Ensino Híbrido

BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adoldo; TREVISANI, Fernando M. Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015.

HORN, Michael B.; STAKER, Heather. Blended: usando a inovação disruptiva para aprimorar a educação. [tradução: Maria Cristina Gularte Monteiro; revisão técnica: Adolfo Tanzi Neto, Lilian Bacich]. Porto Alegre: Penso, 2015.

Site com acesso às vídeo-aulas: ensinohibrido.org.br

Os textos foram organizados em vídeo-aulas que podem ser encontradas, gratuitamente, no curso livre disponível no link acima.

Além disso, temos o curso em outras plataformas, como o Coursera e a EFAP (Escola de formação de professores da rede pública do estado de São Paulo).

De maneira geral, os aprendizados decorrentes do Grupo de Experimentações em Ensino Híbrido possibilitaram uma análise sobre a importância de estimular a reflexão, por parte do professor, sobre a organização da atividade didática. Foi possível concluir que o fato de o professor modificar as estratégias de condução da aula funcionou como disparador de reflexões sobre as relações de ensino e aprendizagem que se estabelecem em sala de aula e, consequentemente, como instrumento de análise e replanejamento de sua prática.

Texto baseado em entrevista realizada com Lilian Bacich

Minicurrículo:

Consultora do Instituto Península. Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP), Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Bióloga (Mackenzie) e pedagoga (USP). Co-organizadora do livro e coordenadora do curso online: “Ensino Hibrido: personalização e tecnologia na educação” parceria entre o Instituto Península e a Fundação Lemann.

Contato: Lilian Bacich // [email protected]

Facebook: facebook.com/lilian.bacich // facebook.com/ensinohibrido

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